Tiririca sobre preconceito: ‘Não é só contra o nordeste, é contra pobre também’

Eleito com mais de 1 milhão de votos, deputado federal fala de discriminação, polêmicas e ataca a teoria do voto de protesto

Diante da onda de comentários preconceituosos contra nordestinos nas redes sociais, Francisco Everardo Oliveira Silva, o Tiririca, afirma que passou à margem da polêmica. Aos 49 anos, ele é um dos quatro nordestinos que foram eleitos para uma vaga de deputado federal por São Paulo. Cearense de Itapipoca, recebeu 1.016.796 votos neste ano, ficando em segundo lugar, atrás apenas de Celso Russomanno (PRB), e pela segunda vez rompeu a marca de um milhão de votos. Em 2010, havia sido o mais votado com 1.353.820 de votos.

Além de Tiririca, São Paulo terá somente outros três representantes nascidos na região Nordeste. Luiza Erundina (PSB), de Uirauna (Paraíba), Orlando Silva (PCdoB), de Salvador (Bahia), e Vicentinho (PT), de Santa Cruz (Rio Grande do Norte). Juntos, somaram 1.373.717 votos. Nada que apague a onda discriminatória vinda das regiões Sul e Sudeste que parece responsabilizar o eleitor nordestino pelas vitórias petistas das últimas disputas eleitorais nacionais.

Tiririca diz que não sofreu discriminação. “Para mim não atingiu nada, não. Na rua, e fizemos muitas caminhadas, não sofri com esse tipo de coisa”, garante ele. Sobre as manifestações na internet, ele explica que tem seu método próprio de lidar com a situação, busca ignorar esse tipo de expressão pública. “Não gosto de sofrer com esse tipo de coisa. Eu evito. Não quero nem ouvir e assim levamos a vida”, resume.

Tiririca ainda parece não lidar muito bem com uma contradição. Embora se venda como palhaço no horário eleitoral, abusando de seus talentos humorísticos seja na pele do personagem que lhe deu fama, seja fazendo sátiras e imitações, não gosta dessa abordagem.

O Tiririca deputado, diferentemente do Tiririca candidato, não gosta de ser tratado como palhaço. “Cheguei aqui e achavam que só seria palhaçada e com o tempo viram que não é por aí”, diz ele. Reclama que a imprensa só se interessa pelo lado cômico de sua personalidade e não dá espaço para seus planos políticos. Entretanto, é vago ao falar do assunto. Defendeu projetos que beneficiam artistas de circo e diz que agora vai além, sem entrar em detalhes. “Vamos apresentar. Vou atirar para todos os lados”, declara.

O deputado fala com bom humor sobre o processo do qual é alvo por ter usado uma música de Roberto Carlos numa paródia veiculada no horário eleitoral. Ele fez uma versão de O Portão, sucesso da dupla Roberto Carlos e Erasmo Carlos. “Não sei se ele chegou a ver (a paródia), sei que não foi ele (que entrou com a ação), mas ser processado pelo Roberto Carlos é lindo. Na audiência eu ia ficar ali ao lado dele sentado agradecendo a chance. Mas está certo, tem de pagar direitos autorais. Mas até agora não chegou nada oficialmente para mim”, afirma Tiririca.

Como o senhor analisa essa onda de preconceito contra nordestinos em função das eleições?
Tiririca – Para mim não atingiu nada, não. Na rua, e fizemos muitas caminhadas, não sofri com esse tipo de coisa.

Mas nas redes sociais houve muitas mensagens e coisas desse tipo.
Tiririca – Não acompanhei. Se houve isso, é lamentável para a gente que é nordestino. Fico triste, mas a gente sabe que existe. Não é só contra o nordeste, é contra pobre também. A gente lamenta. Não gosto de sofrer com esse tipo de coisa. Eu evito. Não quero nem ouvir e assim levamos a vida.

O senhor sentiu esse tipo de preconceito em algum momento na campanha?
Tiririca – Não. Não só na campanha, mas desde que comecei, lá com a Florentina, não sofri isso. Não sei se sou abençoado. Vim de lá e não senti isso. Não sei se é meu jeito. Fui bem recebido, São Paulo me adotou como filho e foi uma coisa linda. Diziam que era voto de protesto…

E não foi voto de protesto?
Tiririca – Acho que é protesto demais, não? Duas vezes? Acho que gostam do artista e do trabalho que fazemos aqui.

O senhor então rejeita o argumento do voto de protesto?
Tiririca – Totalmente. Não existe isso. Fui para as ruas, falei com as pessoas. Não sofri rejeição graças a Deus. Tenho de agradecer a Deus e ao povo de São Paulo e aos nordestinos que vivem em São Paulo. Um milhão de votos, pela segunda vez! Isso é a coisa mais linda. Se é protesto que venha, mas acho que é pelo trabalho que fiz. O sucesso não subiu à cabeça. E olha, sem prometer nada para ninguém, ter um milhão de votos, isso é lindo. Não fiz campanha prometendo nada.

O Roberto Carlos entrou na Justiça para tirar do ar uma de suas peças do horário eleitoral, como é que o senhor recebeu essa ação dele?
Tiririca – Não foi o Roberto Carlos, foi a gravadora dele. Não sei se ele chegou a ver, sei que não foi ele (que entrou com a ação), mas ser processado pelo Roberto Carlos é lindo. Na audiência eu ia ficar ali ao lado dele sentado agradecendo a chance. Mas está certo, tem de pagar direitos autorais. Mas até agora não chegou nada oficialmente para mim.

Durante o primeiro mandato, o senhor concentrou sua atuação com projetos voltados para artistas circenses, não conseguiu aprovar nenhum projeto, mas…
Tiririca – É bom que as pessoas saibam que dos 513 deputados aqui da Casa, só 23 conseguiram aprovar projetos. E agora vamos correr para outros lados, para outras coisas. Não vou deixar de lado os projetos voltados para os artistas de circo, mas vou ampliar. E quanto a aprovar, é algo que não depende só da gente. São 513 deputados, eu, um palhaço de circo, sou reeleito porque fui profissional. Marco, estou aqui. Votação, tudo. Não é para aparecer, sou assim. Seja comercial que vou fazer, gravação… Sou muito sistemático.

Quais serão essas novas áreas que o senhor pretende atuar?
Tiririca – Vamos apresentar. Vou atirar para todos os lados.

O senhor desenvolveu uma relação muito cordial com o Romário e ele acaba de ser eleito senador. Isso inspira o senhor a tentar uma vaga no Senado?
Tiririca – Não, não penso nisso, mas ele foi fantástico. As pessoas reconheceram o trabalho dele aqui. Tenho de dar os parabéns para ele. Ele mostrou a que veio.

Depois dessa nova votação que o senhor teve, aumenta a responsabilidade nesse segundo mandato?
Tiririca – Não. A gente já tinha essa coisa. Já sabia. Fiz muita campanha na rua, muita. Quando você vai para a rua, você sabe o que as pessoas querem.

E o que elas querem? O que as pessoas te pediam nas ruas?
Tiririca – As pessoas mais agradecem, pedem para tirar foto, ou para dizer que tinham votado em mim e que votariam de novo. Por isso que não acredito nessa coisa de voto de protesto. Tinha gente que levava segurança para a gente, nas caminhadas. Que político consegue isso? Coisa linda. Um milhão de votos não é para todo mundo.

E como o senhor acha que deve lidar com essa coisa do preconceito?
Tiririca – Trabalho. Isso sempre vai existir. Cheguei aqui e achavam que só seria palhaçada e com o tempo viram que não é por aí. Sou um cara pé no chão. Não dei carteirada em ninguém, converso com todo mundo. Vou para mais quatro anos. Meu gabinete é o mais visitado. Recebo 150 pessoas por dias aqui nas terças e quartas-feiras.

E o que as pessoas querem?
Tiririca – Elas vêm agradecer, abençoar. Recebo pai de santo que vem dar passe, pastor… tem tudo.

Do Último Segundo / IG

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