1º CONGRELIT – FICHAS

  1. EQUIPE DE LITURGIA

O OUE É?

A equipe de Liturgia é o grupo responsável pela Pastoral Litúrgica, por tudo o que diz respeito à vida litúrgica, celebrativa e orante da Comunidade, fazendo com que a Liturgia, conforme expressão do Concílio (SC 9) seja Fonte e Cume, ponto de partida e de chegada de todas as demais atividades da Comunidade.

Suas tarefas principais são:

  • Coordenar Planejar tudo o que diz respeito à liturgia, às celebrações diversas e à vida de oração da comunidade.
  • Animar a liturgia ajudando as equipes de celebração a articular Liturgia e vida, a celebrar a vida no Mistério de Cristo;
  • Assessorar grupos e cuidar da formação da própria equipe, dos ministros da celebração e da Comunidade.

É uma missão pastoral específica, que se desenvolve, de mãos dadas com as outras Pastorais da Comunidade, em nome de Jesus o Bom Pastor, inserida na missão dos Pastores da Igreja. Em toda a sua ação, a Equipe de Liturgia procura deixar transparecer esta atitude de Jesus que conhece as suas ovelhas e vai ao encontro das mais necessitadas para que tenham vida e vida em abundância. Por isso, a equipe procura aprofundar a sua compreensão da missão pastoral/evangelizadora de Jesus e de sua Igreja, sobretudo em relação à Celebração Litúrgica para desempenhar melhor o seu próprio papel.

A participação plena na Liturgia é o objetivo principal da Pastoral litúrgica. Participação plena, “ativa, consciente e frutuosa (SC 4)” na celebração do Mistério de Cristo.

Desta meta decorrem os demais objetivos e exigências que mobilizam as energias da equipe de liturgia.

– Participação Ativa (interior e exterior) onde a comunidade é sujeito da celebração (celebração da comunidade e não para a comunidade);

– Participação consciente e frutuosa, porque a meta que se quer com celebrações que toquem o coração profundo das pessoas, é fazer entrar em comunhão com o Mistério de Cristo celebrado. Portanto Celebrações (o que se vê) que sejam significantes e comunicadoras das realidades divinas (o que não se vê), que ajudem a passar do que se vê para que o que não se vê, o Mistério de Deus em Cristo que se faz presente, para nós hoje, na Liturgia que estamos celebrando (é a dimensão sacramental da Liturgia).

– Por isso, uma liturgia inculturada, que vela pela qualidade e eficácia das celebrações, não só ao nível objetivo da validade dos ritos, mas ao nível subjetivo das pessoas, procurando aproximar a liturgia celebrada da situação concreta da assembleia, de sua cultura, sua caminhada de fé, suas necessidades, sua linguagem.

– Para isso formar ministros qualificados para a “arte de celebrar”: para presidir a oração, proclamar a Palavra, exercer com qualidade, técnica e profissional, o Ministério da Animação da celebração (comentarista), do Serviço do altar (coroinhas), dos ministérios do Canto, da Música, da Dança, da Organização e decoração do espaço litúrgico onde se celebra etc.

A finalidade última almejada pela Equipe de liturgia é, através de celebrações litúrgicas plenamente participadas, o crescimento da Igreja na fidelidade à graça de Cristo, animada pelo seu Espírito, Povo Sacerdotal que, como Jesus, ofereça a sua vida a serviço do Projeto de Deus.

COMO FAZER? (algumas ideias)

  1. Constituir uma Equipe de Liturgia. Pessoas com dom e gosto pela liturgia, desejo de aprofundar-se, discernimento, capacidade para ajudar os outros etc, procurando desenvolver uma mística da equipe. Procurar integrar jovens e adultos; a presença de um padre/seminarista/diácono ou religiosa e representantes do Canto, da Música, da Dança litúrgica, etc, tudo de acordo com a realidade de cada lugar.
  1. Animação da Vida Litúrgica. A Equipe de Liturgia não se confunde com uma equipe de Celebração, ou seja, das diversas pessoas que exercem uma função de serviço na celebração. Convém que as equipes de celebração sejam variadas e confiadas a diversos grupos (jovens, casais, pastoral social etc.). A equipe de liturgia com sua competência própria em liturgia vai ajudar a multiplicar estas equipes de celebração a preparar a celebração com elas, a articular a liturgia com a vida, a usar de criatividade, a melhorar a comunicação, a qualidade das celebrações.
  1. Formação: A preparação da Celebração com a equipe de celebração já é meio de formação na ação ordinária, que pode ser completada com outras formas como laboratório ou oficinas de liturgia, Dias, Semanas, Cursos para grupos especiais ou abertos à comunidade, etc.
  1. Planejamento / Coordenação : o plano da Equipe de Liturgia

4.1 Levantamento da situação litúrgica (VER)

O que já se faz em termos de liturgia na comunidade, as equipes que existem; quais as celebrações principais durante o ano? Quem organiza? Quem faz o quê? Como se faz? Quando se faz? Anotar os pontos fortes/fracos, as necessidades mais sentidas. Há outras pessoas que poderiam dar uma colaboração? etc.

4.2 Determinar prioridades (JULGAR)

O que no momento parece mais importante e possível trabalhar a partir das principais necessidades definindo as ações que ajudariam a melhorar a situação?

4.3 Elaborar a programação. (AGIR) –

– Estabelecer objetivos ou metas: um objetivo geral (um ideal a ser alcançado a longo prazo) e vários pequenos objetivos específicos que vão permitir dar passos para conseguir o objetivo geral. E que vão constituir pequenos projetos.

-Organizar um Calendário de atividades da Pastoral Litúrgica. Pode-se fazer um quadro com diversas colunas. Na primeira coluna, na vertical, colocar os meses do ano. Na 2ª coluna, passar em revista o calendário das celebrações no decorrer do ano com os principais tempos litúrgicos (Advento-Natal; Quaresma-Páscoa), as celebrações especiais da Comunidade (Festa da Padroeira), algumas datas especiais. Na 3ª coluna, indicar outras atividades de formação e de preparação. Na 4ª os responsáveis.

No calendário, incluir os dias de reunião, os eventuais dias de formação/preparação organizadas pela Diocese /Regional etc.. Conforme as prioridades definidas, indicar pequenos projetos / metas a atingir.

QUESTIONAMENTOS:

  1. Na sua Comunidade, quem cuida da liturgia? Existe uma equipe de liturgia? Como funciona?
  2. O que chamou a atenção de vocês nesta ficha?
  3. Que pequenos passos vocês poderiam dar para melhorar as celebrações litúrgicas? 

Jacques Trudel s.j. Doutor em teologia litúrgica. 

  1. CANTO LITÚRGICO

A Liturgia Cantada

“…o canto sacro … faz parte necessária ou integrante da liturgia solene. “A música sacra será tanto mais santa quanto mais intimamente estiver ligada à ação litúrgica.” (SC 112). 

O QUE É? 

No último Natal (2000 anos do Nascimento de Jesus), o responsável pelo ministério da música numa capela preparou para o povo uma folha “Cantos para a Missa de Natal” que não tinha nenhum canto de Natal senão Noite Feliz na despedida! Fez o povo cantar “na” liturgia em vez de cantar “a” Liturgia do Senhor.

A música sacra será tanto mais santa quanto mais intimamente estiver ligada à ação litúrgica. (SC 112). Canto litúrgico é cantar A LITURGIA, o mistério de Cristo que se celebra, para que a comunidade entre em comunhão com o mistério, se deixe tocar pelo amor de Deus, o acolha de maneira frutuosa para que modifique a sua vida. É a Liturgia de Cristo cantada, celebrada com canto, pois o canto constitui um sinal de alegria do coração (cf. At 2, 46); “Cantar é próprio de quem ama” (Santo Agostinho): “Quem canta bem, reza duas vezes”, provérbio antigo. (IGMR 19).

O excelente Documento da CNBB “A música litúrgica no Brasil” recorda “Na celebração do culto da Igreja, a proposta não é de “fazer música”; mas de entrar, por meio da arte musical, no mistério da salvação”(n° 192); “não é coisa que se acrescenta à oração, como algo extrínseco, mas muito mais, como algo que brota das profundezas do espírito de quem reza e louva a Deus.”

Citando o Concílio Vaticano II (SC 112), o Catecismo dá três motivos em favor da liturgia cantada e tocada. A oração adquire uma expressão de beleza maior; O canto une os corações da assembleia e a liturgia se torna mais celebração mesmo, “festa” solenidade.

“O canto e a música desempenham sua função de sinais de maneira tanto mais significativa por “estarem intimamente ligados à ação litúrgica” segundo três critérios principais: a beleza expressiva da oração, a participação unânime da assembleia nos momentos previstos e o caráter solene da celebração. Participam assim da finalidade das palavras e das ações litúrgicas: a glória de Deus e a santificação dos fiéis” (Catecismo n° 1157).

O catecismo cita, em seguida, o testemunho de Santo Agostinho tocado pela liturgia de Milão:

“Quanto chorei ouvindo vossos hinos, vossos cânticos, os acentos suaves que ecoavam em vossa Igreja. Que emoção me causavam! Fluíam em meu ouvido, destilando a verdade em meu coração. Um grande elã de piedade me elevava, e as lágrimas corriam-me pela face, mas me faziam bem”(Catecismo n° 1157).

Sendo Liturgia cantada, toda a liturgia pode ser cantada sem que “seja necessário cantar sempre todos os textos de por si destinados ao canto” (IGMR 19). Podemos distinguir:

1) As partes do que preside, os diálogos com a assembleia (com suas respostas): por ex. sinal da cruz, saudação inicial, o Senhor esteja convosco etc., as orações da coleta, sobre as oferendas e da pós-comunhão, o Prefácio e a Prece Eucarística (com as aclamações cantadas pelo Povo).

2) A proclamação da Palavra de Deus: o Evangelho, as demais leituras pelos leitores, o Salmo próprio do dia depois da lª leitura que, sempre, deveria ser cantado.

3) As partes comuns à assembleia com o que Preside que constituem o “ordinário da Missa” porque são as mesmas em todas as celebrações: Senhor tende Piedade, (Rito Penitencial) Glória, Creio, (Oração dos fiéis), Santo que mereceria ser sempre cantado, Pai Nosso, Cordeiro de Deus;

4) As partes próprias da celebração que mudam de acordo com o mistério de Cristo celebrado nos ciclos do ano litúrgico: Advento-Natal, Quaresma-Páscoa, domingos verdes do tempo comum; nas festas particulares: Corpus Christi, S. Coração, Trindade, nas celebrações dos Santos.

São cantos que acompanham ritos de procissão:

  • O Canto inicial da Entrada em celebração durante o qual entram os diversos ministros;
  • O Canto das Ofertas que acompanha a procissão dos dons da Comunidade levadas para preparar a Ceia do Senhor.
  • A Aclamação ao Evangelho (enquanto o Evangelho é levado ao ambão) em geral um duplo Aleluia com uma citação do Evangelho que vai ser lido;
  • O Canto da comunhão durante a procissão dos que vão receber de Cristo o alimento de sua Vida por nós oferecida: o seu Corpo entregue, o seu Sangue por nós derramado para que possamos fazer e viver como Ele. O Missal Romano conserva para estes momentos a sugestão de uma antífona (com salmo) que dá o sentido teológico do mistério de Cristo celebrado e que pode orientar a nossa escolha de um canto próprio. A notar que, como para a aclamação ao Evangelho, muitas vezes a antífona de comunhão retoma uma frase do evangelho do dia.

5) Outros cantos suplementares de mais livre opção: canto de Boas Vindas na saudação inicial, canto da Paz, ação de graças ou interiorização após a comunhão, canto final entusiasta; ou mesmo refrães meditativos e repetitivos antes de iniciar a celebração, antes da 1a leitura, após a proclamação do Evangelho ou no fim da homilia, etc.

COMO FAZER?

 “dê-se grande valor ao uso do canto nas celebrações, tendo em vista a índole dos povos e as possibilidades de cada assembleia (1GMR 19)”.

A eficácia pastoral da celebração aumentará…, se os textos das leituras, das orações e dos cantos corresponderem, na medida do possível, às necessidades, à preparação espiritual e à mentalidade dos participantes… Por isso, na organização da Missa, o sacerdote levará mais em conta o bem espiritual de toda a assembleia do que o seu próprio gosto (IGMR 313).

Diversos critérios para a escolha dos cantos na liturgia cantada Para o bem da Assembleia

Levar em conta as pessoas, pois a assembleia litúrgica tem primazia como sujeito da ação litúrgica. Quem celebra (adultos /jovens/crianças) com suas peculiaridades de idade, mentalidade-índole, necessidades e possibilidades. Respeitar, portanto, a sensibilidade religiosa do nosso povo.

Levar em conta o tempo do ano litúrgico “Esteja intimamente ligada à ação litúrgica a ser realizada” SC112, para a escolha dos cantos do “Próprio do tempo” e o número de cantos e tonalidade dos cantos do comum, cantos livres ou músicas. Se possível os cantos estejam em sintonia com os textos bíblicos de cada celebração, especialmente com o Evangelho. Ver os Hinários da CNBB.

Escolher o canto adequado ao momento ritual dentro da celebração.

4° Levar em conta a vida comunidade com suas alegrias e dificuldades, suas lutas, a pobreza, etc. onde Cristo se faz presente com sua salvação, evitando dois perigos tanto o exagerado individualismo (intimista e sentimentalista com muito “eu” e “meu”) quanto o exagerado militantismo pregando a luta pela justiça social.

5° Privilegiar cantos de qualidades: inspiração na Bíblia, linguagem poética e simbólica, caráter orante, expressivos do diálogo entre Deus e seu povo; linguagem verbal e musical, no “jeito” da cultura do povo local, possibilitando uma participação consciente, ativa e frutuosa dos fiéis.

6° Procurar variar a maneira de cantar (solista-povo; coral) e encontrar novos momentos para cantar ou tocar a música. Favorecer momentos de música só de vez em quando.

PERGUNTAS PARA REFLETIR 

  1. Quem faz e como é feita a escolha dos cantos na sua comunidade?
  2. Os cantos escolhidos refletem o tempo litúrgico?
  3. Cada canto é adequado ao momento ritual da celebração?
  4. A partir desta ficha, verificar os momentos habituais de cantos na sua comunidade e os momentos da liturgia que nunca são cantados. Vocês poderiam iniciar uma programação musical que incluísse novos momentos de cantos?
  5. Além de acompanhar o canto, vocês valorizam a música por si só, como introdução musical, para criar um clima, para prolongar uma oração, uma leitura, em vez de um canto de ofertas por exemplo?
  6. Quais as partes que o que preside a liturgia canta? Seria possível pedir que cantasse outros momentos aos poucos, à condição que tenha capacidade e voz para isso?

SUGESTÕES CONCRETAS 

Para melhorar a programação musical das comunidades, ofereço algumas sugestões.

  1. Cantar sempre o salmo, ao menos o refrão que pode ser criado na comunidade. Pode se escolher um salmo comum para vários domingos. Do mesmo modo, nunca omitir de cantar o Santo.
  2. Introduzir pequenos cantos do ordinário como: os améns, a doxologia final, o sinal da cruz, a saudação inicial etc.
  3. De vez em quando, introduzir alguns refrãos meditativos antes da celebração, antes das leituras e um canto bem entusiasta como canto final ou de despedida.

Aos poucos, aumentar o repertório de cantos para o Próprio do tempo: em particular para a Páscoa, Semana Santa, Quaresma além dos cantos da CF, Advento e Natal inspirando-se dos Hinários da CNBB.

Para aprofundar

 Estudos da CNBB 79 A música Litúrgica no Brasil, Paulus 1999. Os Hinários da CNBB 

Jacques Trudel s.j. Doutor em teologia litúrgica

  1. ARTE LITÚRGICA

Criar um espaço de oração e de beleza para celebrar

A casa de oração onde a Eucaristia é celebrada e conservada, onde os fiéis se reúnem…. deve ser bela e adequada para a oração e as celebrações religiosas”. (Catecismo 1181)

“A celebração litúrgica é enriquecida com o contributo da arte, que ajuda os fiéis a celebrarem, a se encontrarem com Deus e a rezarem ” (4ª Instrução A Liturgia Romana e a Inculturação n. 43) 

O QUE É?

A Arte Sacra (Arte Litúrgica como se prefere chamar hoje) designa a Arte que se coloca a serviço da Liturgia e da participação ativa e plena da Assembleia na Liturgia. Não se refere aos ritos como tais nem à música sacra (que sem dúvida são arte), mas quer contemplar concretamente todos os elementos materiais e físicos que criam o ambiente para a celebração ou são usados na celebração e que, deste modo, integram a celebração e condicionam a participação da assembleia. São: o lugar onde se celebra, o mobiliário (altar – ambão – sede – pia batismal, etc.), todos os objetos que se usam (cálice, patena, turíbulo etc), as vestes dos ministros, etc., as imagens (a cruz – os santos), a ornamentação e decoração e todas os demais elementos que ajudam a criar um ambiente propício e uma celebração bonita e gostosa que fale ao coração: plantas, flores, jardins, estandartes, panos, iluminação, etc. (SC 122-123 e IGMR 253-280, 287-312).

Na ambientação como na celebração, tudo deveria manifestar beleza e bom gosto na confecção, escolha e na integração dos diversos elementos num conjunto de unidade harmoniosa e não com aparência de simples aglomerado de coisas. Diz a IGMR a propósito: “sejam realmente dignos e belos, sinais e símbolos das coisas divinas” (IGMR 253) “visar mais a nobre simplicidade do que a pompa“; cuidar da “autenticidade dos materiais” (IGMR 279) isto é não querer imitação; “aliar uma nobre simplicidade a um apurado asseio” (IGMR 312). Quanto ao estilo “a Igrejaadmite as expressões artísticas de todos os povos e regiões (1GMR 254),” portanto, enculturação e fidelidade ao tempo presente em consonância com os princípios litúrgicos.

A Arte litúrgica: uma ponte entre o visível e o invisível

A arte litúrgica colocada a serviço da Palavra e do rito se faz transparente ao mistério celebrado, ajuda a fazer descobrir a presença invisível de Cristo. A arquitetura, a disposição dos fiéis, os objetos, a decoração, as vestes, as toalhas, as cores que mudam de acordo com o ano litúrgico. Tudo isso fala à pessoa inteira ajudando a suscitar sentimentos de admiração, louvor, respeito, ação de graças, arrependimento, devoção, compaixão, senso ético, que brotam da experiência religiosa de Deus e fazem crescer na fé. A liturgia pré-conciliar manifestava uma preocupação excessiva pela validade e execução correta das rubricas; hoje ampliamos o horizonte para realçar as dimensões festivas, estética e mística da celebração. A arte litúrgica não fala de si senão de Deus e do seu mistério. “A arte sacra verdadeira leva o homem à adoração, à oração e ao amor de Deus Criador e Salvador, Santo e Santificador”. (Catecismo 1502). O desafio para a arte litúrgica consiste em conciliar, criar um ambiente belo, amigável, familiar, acolhedor, alegre e, ao mesmo tempo, que inspire admiração, respeito adoração e reverência da criatura diante do mistério de Deus Criador e Salvador, ou como escrevia João-Paulo II na Carta aos artistas (n. 16), que possa conduzir “àquele Oceano infinito de beleza onde o assombro se converte em admiração, inebriamento, alegria inexprimível’”. 

COMO FAZER – Os espaços celebrativos

Quando se constrói uma igreja há de pensar em muitos espaços (catequese, reuniões, festas, administração), mas, de maneira toda especial, nos espaços litúrgicos. Prever espaços: para a acolhida fraterna (o adro), lugar intermédio entre a rua e a celebração, para a reunião da Assembleia (nave) com destaque para o lugar dos ministros (presbitério), espaço para o coral e músicos na assembleia, espaço vazio amplo para as procissões dançadas ou não da entrada, ofertas, comunhão, etc.; espaço para celebrar o Batismo e a Reconciliação, espaço para a reserva da Eucaristia (capela do Santíssimo).

A função litúrgica é quem determina a forma e organização de cada espaço tendo em vista a participação ativa da assembleia, pois a forma tem uma influência direta sobre nível de participação. O tradicional formato de uma igreja longa e estreita (da missa rezada em latim de costas para o povo) se mostra inadequado para uma celebração bem participada onde “a assembleia inteira é o liturgo“, “cada um segundo a sua função” (Catecismo 1188.). “Disponham-se os lugares dos fiéis com todo cuidado de sorte que possam participar devidamente das ações sagradas com os olhos e o espírito” e ver e ouvir com facilidade (IGMR 273). Existem novas formas de construção (mais quadrada / circular /em trapézio, ou outra) com planta baixa que permite distribuir os fiéis o mais perto possível da ação litúrgica, em várias fileiras em forma de leque, meio círculo ou de U (em frente e em cada um dos lados do altar) onde possam também ver-se uns aos outros. Esta distribuição manifesta melhor a assembleia litúrgica como Igreja reunida na diversidade das funções, acentua o caráter de familiaridade característica da Domus ecclesiae primitiva, a Casa da Igreja. O fato de ver-se face a face (e não somente cabeças) facilita a participação ativa. O presbitério ocupa um dos lados um pouco mais elevado, apenas o suficiente para facilitar a visão e audição, ao mesmo tempo, pela sua unidade com a nave, deve manifestar, que os ministros são membros da mesma Assembleia embora com funções diversificadas. Para evitar a impressão de ministros demasiadamente separados da assembleia. Há inclusive experiências felizes de espaço sem presbitério onde os 3 pontos focais do ambão para a Palavra, do altar para o sacramento e da Sede (cadeira) para a presidência, devidamente destacados, são localizados em meio à assembleia.. Isso se torna mais fácil em capelas ou locais com assembleias menores distribuídas em círculo ou em dois lados frente a frente (modelo antifonal coro a coro de mosteiros). (CLÁUDIO PASTRO, Guia do espaço sagrado, Loyola, São Paulo, 1999).

Os 3 pontos focais mencionados merecem um tratamento artístico diferenciado na sua estrutura e/ou na decoração para realçar a sua importância.

  1. O altar ou mesa do Senhor, fixo (de preferência) ou móvel, deve aparecer como “centro para onde se volte a atenção de toda a assembleia dos fiéis” (IGMR 262.). Sugere-se localizá-lo mais próximo dos fiéis avançando o pódio. Hoje, há uma tendência a confeccionar altares de proporção modesta embora de diversas formas, por ex. 150x150cm, 100cm de altura, mesmo em igreja grande e de colocar nele apenas a toalha, o missal e, a partir das ofertas, a patena grande única com o pão para todos e o cálice, deixando as velas fora do altar onde é possível.
  2. Para a Liturgia da Palavra é centro da atenção o ambão único, fixo se possível e de confecção artística; idealmente, não deveria ser usado para comentários ou avisos.
  3. A sede onde o que preside dirige as orações e pode fazer a homilia será única e diferenciada dos assentos dos demais ministros, mas sem dar ideia de trono (IGMR 271). A localização no fundo do presbitério nem sempre é satisfatória na prática para uma boa comunicação e novas formas de plantas baixas conseguem situá-lo mais perto dos fiéis.

Para o sacrário a IGMR recomenda, onde é possível “uma capela que favoreça a adoração e a oração particular” (IGMR 276). Para o Batismo deveria pensar-se em pias ou fontes batismais com água corrente prevendo a possibilidade, como é a tendência, o batismo por imersão total ou parcial de crianças e, possivelmente, de adultos. Existem já muitas sugestões interessantes de formas. A localização nem sempre fácil pode ser: a) perto da assembleia  mas fora do presbitério, b) na entrada da igreja de sorte que possa servir também de pia de água benta para os fiéis ou c) numa capela própria, mas à vista. 

Conclusão: a importância do espaço de oração e de beleza

Criar um espaço de oração e de beleza não é indiferente. As igrejas são verdadeiros lugares de iniciação cristã, pois formam as sensibilidades religiosas de quem as frequenta ao longo do tempo. Criar um espaço de beleza e de asseio é também exercer uma função educadora e humanizadora no meio de tantas condições precárias de nossa gente. A beleza faz parte do projeto criador “Ao pôr em relevo que tudo o que tinha criado era bom, Deus viu também que era belo “ (tradução grega dos setenta de Gn 1,31). Citada em JOÃO-PAULO !I, Carta aos artistas n° 3 nota. 4, Paulinas 1999.

Sugestões

  1. Avaliar a nossa igreja/capela com tudo o que ela contém, inclusive os objetos usados, as toalhas, os paramentos etc. para verificar o estado e o que se pode melhorar. Verificar especialmente o ambão, o altar mesa do Senhor, o lugar de quem preside, a pia batismal e a reserva da Eucaristia.
  2. Constituir uma equipe diocesana de “Arte litúrgica” que possa orientar, ao menos, as comunidades na construção de igrejas e capelas.
  3. Procurar trabalhar a ambientação do espaço da celebração de acordo com os tempos fortes da liturgia. Escolher um elemento para realçar: a cruz, o círio pascal, a pia batismal, o ambão, com a ajuda de panos coloridos, arranjos florais, ou outro elemento decorativo. 

Sugestão de leituras 

Catecismo da Igreja católica: 1179-1186; 1196-1199; 2500-2503;

Instrução gerai do Missal Romano (no próprio missal), nn: IGMR 253-280, 287-312.

  1. PASTRO, Guia do espaço sagrado, Loyola 1999.

MONS. GUILHERME SCHUBERT, Arte para a fé, Igrejas e Capelas depois do Concílio Vaticano II, Vozes 1979. 

  1. LITURGIA E COMUNICAÇÃO

“Na Liturgia, Deus fala a seu Povo, E o povo RESPONDE a Deus com cânticos e com orações “(SC 33) 

O QUE É?

Falar de comunicação é falar de relação entre pessoas, de algo que se dá a conhecer, se partilha, criando algo comum, comunhão e participação. No nível mais profundo, quem entra em comunicação com outro dá a conhecer algo de si, de sua interioridade, de sua intimidade até, ideias, experiências, emoções.

Na liturgia, podemos distinguir 1°. A comunicação “vertical” de Deus com o seu Povo, 2°. A comunicação “horizontal” dos ministros com a assembleia. No 1° nível, fundamental, toda a liturgia não visa senão a comunicação viva com o Pai que faz de nós filhos e filhas, irmãos e irmãs, por um trabalho progressivo de transformação interior. Deus, porém, não se vê. A comunicação com Deus é de ordem sacramental dos sinais, ou seja, passa pelas estruturas de comunicação humana dos ritos, ações simbólicas, palavras, etc.

O 2° nível de comunicação diz respeito justamente a esta comunicação humana na assembleia, de quem preside à oração, proclama com a assembleia, à proclamação das leituras, etc. A celebração é um conjunto de gestos, palavras, ritos, de uma ou várias pessoas e que constituem várias linguagens específicas que vão do não-verbal ao verbal. Neste nível, a comunicação na liturgia obedece às leis científicas, da comunicação. Um microfone defeituoso, uma iluminação inadequada, leitores que não pronunciam bem as palavras, dificultam a comunicação tanto na liturgia quanto numa conferência. Aqui entram em jogo técnicas da comunicação e competências específicas a serem adquiridas. Embora a graça de Deus possa vir em ajuda às nossas fragilidades, no entanto, a partir da Encarnação do Verbo de Deus, a comunicação com o divino será facilitada por uma boa comunicação. É nas estruturas e pelas estruturas da comunicação humana, que se pode facilitar ou dificultar a comunicação com o divino. Deus fala a seu povo e o povo responde a Deus.

O esquema elementar da comunicação responde às perguntas: Quem comunica, o Quê comunica, para Quem comunica. ou seja a) o esquema base

Quem emite a mensagem o Emissor, – a Mensagem, e o Receptor.

No exemplo da SC 33, o “círculo da comunicação” se fecha com a resposta do destinatário que se torna, por sua vez, Emissor. Quando a comunicação acontece numa única direção como no caso de um monólogo, fala-se de comunicação unilateral.

Quando a mensagem usa palavras faladas ou escritas, temos comunicação verbal. Quando a mensagem se transmite através de sinais gestos corporais (o abraço da paz) etc., falamos de comunicação não verbal. Ao lado da comunicação verbal, especialmente na liturgia da Palavra, a celebração usa muito a comunicação não verbal de gestos, atitudes, cores, símbolos, incenso, velas, tamanho e forma e objetos, etc.

Na mensagem podemos distinguir: a) o significado, o conteúdo da mensagem que se quer transmitir, e b) o código usado para transmitir o conteúdo da mensagem (significante), isto é, o elemento material perceptível aos sentidos. Quando digo “água” para me referir a uma determinada realidade (o conteúdo a transmitir), estou usando sem perceber o “código” de um sinal sonoro particular, que e o elemento material perceptível aos sentidos, a saber, no caso, o código, dos sons do português. Se, para designar a mesma realidade, eu disser “water” ou eau” estou usando outros sinais sonoros, outros códigos específicos do inglês e do francês. Se o meu interlocutor não conhecer estes códigos não terá acesso ao conteúdo da mensagem, e não haverá comunicação. Para que haja comunicação entre um emissor e o destinatário é preciso um código comum a ambos. Uma definição da ação comunicativa diz “utilização de um código para a transmissão de uma mensagem de sorte que permita que um emitente e um receptor possam entrar em contato.” (Dizionario di Omiletica, Elle Dí Ci 1998,col. 811a ). Recordo Valéria, hoje muito bem atuante na comunidade que dizia “quando entrei na crisma não entendia nada do que o Padre falava na missa”. Todos os elementos da celebração constituem uma linguagem específica de conteúdos com”códigos” que necessitam de uma iniciação.

Ruídos na comunicação são as interferências que impedem uma correta transmissão da mensagem. Pode ser o chiado do microfone, mas, também, o zeloso sacristão que, durante a leitura, tenta em vão acender a vela do altar; todos acabam prestando mais atenção ao sacristão do que ao leitor. O feedback ou retroalimentação é um mecanismo que procura verificar o grau de fidelidade com que uma mensagem chega ao destinatário. Os músicos e cantores usam um caixa de retorno; como fazemos para saber se as nossas celebrações “passam”, comunicam, ajudam a assembleia a encontrar-se com o Senhor?

Falar é “dizer alguma coisa sobre alguma coisa”. Três aspectos entrem em consideração. 1 – Falo para ser entendido. E o aspecto do conteúdo (significado) a comunicar. 2 – Para quê falo? Falar/comunicar produz um efeito. Permite algumas funções: tomar contato (o Senhor esteja convosco!) provocar sentimentos (Deus te ama, meu irmão!), comunicar ideias (Pascoa é a festa principal…), incitar a passar à ação (sejam generosos com o dízimo; de pé para), informar (na quinta feira vai ter…), realizar o que se diz (Eu te absolvo dos teus pecados.), etc. 3 – O que não se diz afeta, também, a comunicação: o tom de voz, o olhar, as hesitações, as vestes usadas, o jeito pessoal favorecem ou dificultam a comunicação. Por sua vez, o destinatário recebe a mensagem a partir do que ele é, sua situação existencial, sua história, sua experiência, suas necessidades, seus desejos, etc.

COMO FAZER?

Na liturgia temos várias situações litúrgicas distintas de tomada da palavra como: 1 – A proclamação da Palavra de Deus. 2 – As orações presidenciais. 3 – A homilia. 4 – As monições de introdução. 5 – Os avisos, etc. Em princípio, cada uma destas situações mereceria um tom de voz diferente. Não se proclama o evangelho como se dá um aviso.

O ato de falar é ao mesmo tempo um gesto do corpo e um gesto da voz. Gesto do corpo: chegar ao ambão, equilibrar-se bem nos dois pés, mãos que seguram o livro, cabeça voltada para o povo olhando para a assembleia, criar uma presença. Gesto da voz: preocupação com o conteúdo da mensagem a transmitir (claridade pronunciação, e dicção) das palavras, encontrar o tom de voz adequado ao tamanho e qualidade tipo de assembleia, ao gênero literário do texto: narrativa de milagre, parábola, texto poético, exortação, etc. Existem técnicas para falar, mas não servem de nada se não se cria antes de tudo interioridade. Quando a Palavra de Deus é proclamada, não é qualquer palavra, é Deus quem fala e fala, em primeiro, a mim, o leitor. O leitor, ao mesmo tempo em que proclama, há de ser um ouvinte da Palavra, que escuta o texto na medida em que fala. E se ele fizer isso, vai comunicar o Deus que quer falar ao seu Povo.

Alguns conselhos práticos. Ao aproximar-se do ambão, verificar a altura do microfone e a distância da boca. Não “engolir” o microfone à maneira dos cantores; pois a demasiada proximidade cria uma zona de intimidade inadequada à proclamação da Palavra, de modo geral. Antes de iniciar a leitura, olhar para a assembleia num instante de silêncio e iniciar, então, a leitura, procurando proclamar olhando para o povo e não para o livro, olhando para ele. Para isso, acostumar-se a ler decorando uma parte da frase, para proclamá-la olhando para a assembleia. Falar devagar, com pausas, pois os ouvintes devem precisar reconstituir o sentido das palavras e das frases do texto a partir de sua proclamação. Nos exercícios, costumo sugerir que o leitor conte mentalmente até 4, no ponto final de uma frase antes de iniciar a outra; até 3, depois de um ponto-vírgula e um, depois de cada vírgula. O volume de voz deve ser proporcional à distância media entre o que fala e os ouvintes. Ao terminar, deixar um tempinho antes de dizer “Palavra do Senhor“. No Evangelho, levantar o livro e, proclamar “Palavra da Salvação” e só repô-lo depois da aclamação da assembleia eventualmente cantada. Supõe-se evidentemente, a leitura que se leia a partir do lecionário e do Evangeliário e não de folhinha que não pode “comunicar” a importância da Palavra de Deus (comunicação não-verbal).

Conclusão: desenvolver uma atitude de escuta. Não há diálogo nem boa comunicação sem uma atitude de escuta. Não só ouvir, mas prestar atenção, escutar como se diz de um amigo “ele me escutou“. Escutar a Palavra, mas escutar também o silêncio. Certas comunidades estão fazendo, com sucesso, a experiência de omitir as introduções às leitura para não interromper o ritmo da sequência da Palavra: 1ª leitura. Demasiadas palavras que interrompem o diálogo interior da Palavra de Deus, seguida do Salmo cantado, 2ª da segunda leitura; e da aclamação solene do Evangelho trazido em procissão com cantos, velas e incenso, olhando intensamente para ele. Para facilitar a interiorização, antes ou depois da leitura, um interlúdio musical, um refrão meditativo, repetido baixinho, para ajudar a escutar o silêncio. Escutar a assembleia enquanto presido ou proclamo a Palavra, escutar não só com os meus ouvidos, mas com os meus olhos, com e todos os meus sentidos a assembleia a qual me dirijo para conhecer a sua linguagem, para sentir-nos cúmplices-parceiros num mesmo celebrar. Escuta do canto da assembleia pelo cantor, no microfone para, colocar-se também à escuta do canto da assembleia que ele deve sustentar e provocar, para não dominar e esmagar a assembleia com a sua voz, por bonita que seja.

Sugestões

  1. À luz desta ficha, procurar fazer a análise de uma celebração do ponto de vista da comunicação.
  2. Experiência de Proclamação da Leitura. Definir gênero literário do texto a proclamar. Verificar os gestos do corpo na proclamação: cabeça, olhar, mãos, pés, e o gesto da voz: entonação, ritmo, pausas etc.). Experimentar diversas maneiras de proclamar: mais solene ou mais informal, mais afetiva ou neutra. Opinar e experimentar o que for melhor para a comunidade. Observar como fazem os que julgamos os melhores leitores (as) da comunidade. Como agem?

Para aprofundar:

  1. GÉL1NEAU, A comunicação na assembleia em vossas assembleias I. Teologia pastoral da missa, cap. IV, Paulinas 1973, pg. 795. 

Jacques Trudel S.J.- Doutor em Liturgia 

  1. DANÇA LITURGICA- A MISSA DANÇADA

Louvem seu nome com danças (SI 149,3)

Louvai-o com dança e tambor…(SI 150,4)

O QUE É?

A liturgia dançada é fruto direto da reforma litúrgica oriunda do Concílio Vaticano II na linha da inculturação. Após o Concílio, os africanos foram os primeiros a começar a dançar a liturgia. Em 1989, os Bispos do Brasil autorizam a dança na missa com a aprovação do documento 43 Animação da Vida litúrgica no Brasil (nn. 83, 207, 241) Em 1994, a Congregação para o Culto publica a 4a Instrução para uma correta aplicação da constituição conciliar sobre a liturgia, A Liturgia Romana e a Inculturação. O n° 42 fala precisamente da dança e vamos comentar:

“Em certos povos, o canto é instintivamente acompanhado do bater de mãos, de movimentos ritmados e de passos de dança dos participantes. Tais formas de expressão corporal podem ter lugar na ação litúrgica desses povos, na condição de serem sempre expressão de uma verdadeira e comum oração de adoração, de louvor, de oferta ou de súplica e não mero espetáculo”. CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO, A Liturgia Romana e a Inculturação. IV Instrução para uma correta aplicação da Constituição conciliar sobre a Liturgia, Paulinas, 1994, nn. 42.

O canto é a referência fundamentai. A dança, pois:

  1. a) faz parte do processo de inculturação, pois “em certos povos, o canto é instintivamente acompanhado”
  2. b) está vista na visão mais ampla da participação do Corpo na liturgia “expressão corporal” que se dá através do bater das mãos, de movimentos ritmados do corpo e passos de dança.

Condições: Ser oração comum; ou seja, um jeito da comunidade expressar a sua oração de louvor, adoração, oferta, súplica, mas, também, ação de graças, arrependimento, etc. A oração que brota do coração da comunidade se expressa pelo corpo e com o corpo. É a Liturgia dançada, é dança ritual quando o próprio rito é dançado. É a celebração litúrgica com uma expressão nova mais inculturada e não” mero espetáculo” na liturgia.

Embora toda a assembleia possa se expressar pelo corpo no seu lugar, em geral existe uma equipe que exerce o ministério da dança litúrgica e se prepara para exercer este serviço.

COMO FAZER?

A equipe de dança litúrgica e sua formação. Numa paróquia pode haver várias equipes de dança (crianças para missa com crianças; casais para a missa animada pelos casais), mas é desejável ter uma equipe principal, estável, de jovens e/ou adultos, rapazes e moças, que se habilitam para prestar este ministério específico da dança a serviço da participação ativa da comunidade. Se há dança todos os domingos exceto na Quaresma (jejum da dança e dos instrumentos), convém que haja uma reunião semanal com dois momentos: a) momento de espiritualidade e de estudo: iniciação à Espiritualidade bíblica e litúrgica, sentido e princípios de liturgia e de dança, reflexão sobre os textos da liturgia do domingo no seu tempo litúrgico, momento de oração, etc. b) prática (laboratório), avaliação, relaxamento, escolha e ensaio dos passos mais adequados, de acordo com o tempo litúrgico e as músicas selecionadas anteriormente pela equipe de liturgia, estudo de novos passos, etc. Antes da celebração, novo breve momento de preparação: último ensaio e oração para preparar-se a expressar pelo corpo a oração comum.

É desejável que os componentes da dança usem uma veste própria que os distingue dos outros ministros e acrescenta à beleza da celebração. Pode ser o tipo bata colorida até os joelhos, usada por cima das vestes tanto por homens quanto mulheres (as mulheres usam uma saia longa debaixo). Outros preferem vestes longas, dançar descalças, etc.

Por ser um ministério litúrgico, os integrantes deveriam participar da celebração em lugar adequado na assembleia ou no presbitério, de onde saem apenas nos momentos previstos. Evitar- entrar só para dançar saindo em seguida (para a sacristia) à maneira de figurantes.

 Quando dançar a missa? Os momentos mais adequados são 1° As procissões rituais da entrada dos ministros, da aclamação ao Evangelho levado ao ambão, na procissão das ofertas e, eventualmente, durante a saída dos ministros; 2° O Glória e o Santo; 3° Outros momentos: rito penitencial, salmo, como meditação após a comunhão, etc.

Estilos de dança. Olhando a prática da dança litúrgica em diversos países, aparecem duas linhas principais com ramificações: 1. Passos de dança inspirados da cultura tradicional.  2.Passos de dança semelhantes às coreografias da dança clássica ou contemporânea.

  1. Passos inspirados da cultura tradicional. É o modo característico da África dançar e que o texto analisado acima tem em vista. Passos e movimentos ritmados do corpo com gestos das mãos acompanham o do ritmo de acordo com a cultura local. Podem ser danças em duas fileiras com passos simples, repetidos, sincronizados onde todos fazem a mesma coisa). No contexto do Nordeste, danças regionais como ciranda, maracatu, etc., podem servir de inspiração para adaptar os passos à liturgia. A experiência de grupos negros, com inspiração nas congadas, afoxé ou ritos afro parece favorecer uma dança menos sincronizada, onde cada participante dança do jeito que lhe parece melhor ao ritmo da música.
  2. Passos na linha das coreografias da dança clássica ou contemporânea. Linha mais presente na América do Norte, também em igrejas evangélicas. Os passos, muito diferentes da primeira linha, obedecem a uma coreografia programada para expressar algo, fazer passar um sentimento, uma ideia; é dança mais teatral, que pode até exigir um treinamento especializado de bailarino/a e sapatilhas especiais. Os movimentos não são tão repetidos e sincronizados nem muito lugar para a espontaneidade. Uma variante no Brasil é o que chamamos de expressão corporal bem ao gosto do povo: uma coreografia simples, sem gestos rebuscados que não exige treinamento muito complicado, e pela qual se procura dar expressão plástica e teatral a um salmo, um rito penitencial, uma parábola bíblica com fundo musical, a um canto, etc e emoções. Tem grande força de comunicação porque participa de critérios mais teatrais onde se busca diretamente passar emoções e sentimentos, o que não existe da mesma maneira nas danças tradicionais. Existe uma expressão corporal ainda bem mais simples, também bastante difundida quando a assembleia acompanha, apenas com alguns gestos, a letra dos cantos. Ajuda muito na participação ativa especialmente com assembleias de crianças. 

Conclusão. A introdução da dança litúrgica na comunidade exige discernimento e prudência pastoral pois não temos ainda tradição de dançar a liturgia. A dança ou mesmo a escolha de novos passos pode criar resistência numa comunidade e levantar críticas. É preciso saber escutar, respeitar as sensibilidades religiosas, a formação das pessoas e, com paciência, iniciar a comunidade a este novo modo de expressão, ter a humildade de reconhecer os erros e procurar fazer melhor. Se a dança for capaz de expressar interioridade, em suma ser expressão de beleza e oração para celebrar melhor o mistério de Cristo, será instrumento de comunhão e de progresso no caminho de Cristo.

Perguntas 

  1. Como vocês entendem a diferença entre dançar A liturgia e dançar NA liturgia?
  2. Na experiência da dança litúrgica de sua comunidade, houve etapas distintas? Que conselhos vocês dariam para uma comunidade que quer iniciar?
  3. Perguntem a pessoas da comunidade o que acham da dança litúrgica e reflitam sobre isso.
  4. Durante a celebração onde ficam os componentes da dança?

Para aprofundar

A Paróquia da Mustardinha elaborou um vídeo amador para ajudar outras comunidades. DANÇA LITURGICA COMO FAZER? A experiência da Paróquia de Mustardinha — Recife. Informações para compra com Pe. Jacques Trudel,s.j. —Universidade Católica de Pernambuco, Rua do Príncipe 526; 50050-900 Recife-PE. E-mail: FAX: 3216-4228; Fone 3216-4171. (informações com a secretária, tarde noite):

Estudos da CNBB n° 79, A música litúrgica no Brasil, Paulus 1999, nn,206-219;

CNBB, Documento 43 Animação da Vida litúrgica no Brasil, (nn. 83, 207, 241);

CNBB Documento 45. Diretrizes Gerais da ação pastoral da Igreja no Brasil 1991-1994- São Paulo: Paulinas, 1991; nn. 95, 135, 225, 302;

Dança em índice Analítico, Dicionário de Liturgia, Paulinas, São Paulo 1992.

Pesquisar na INTERNET com um motor de busca em inglês procurando pelas palavras Religious Dance ou Liturgical Dance para ver fotos da segunda linha.

Pe. Jacques Trudei s.j.

  1. A CELEBRAÇÃO DO MISTÉRIO DE CRISTO

AO LONGO DO ANO LITÚRGICO

Na liturgia, a Igreja celebra principalmente, o mistério pascal pelo qual Cristo realizou a obra da nossa salvação. (Catecismo 1067).

No centro do ano litúrgico o mistério pascal de Cristo 

O QUE É 

            No dia de Pentecostes, os apóstolos anunciam o núcleo fundamental da fé cristã: “vós matastes (Jesus), pregando-o numa cruz, mas Deus ressuscitou a Jesus” (Atos 2, 22-24). É o mistério pascal.

Jesus viveu o único evento da história que não passa: Jesus morre, é sepultado, ressuscita dentre os mortos e está sentado à direita do Pai  “uma vez por todas” (Rm 6,10; 1-lb 7,27; 9,12): é um evento real, acontecido na nossa história, mas é único: todos os outros eventos da história acontecem uma vez e depois passam, engolidos pelo passado. O Mistério pascal de Cristo, ao contrário, não pode ficar somente no passado, já que pela sua morte destruiu a morte, e tudo o que Cristo é, fez e sofreu por todos os homens, participa da eternidade divina, e por isso abraça todos os tempos e nele se mantém permanentemente presente. “O evento da cruz e da ressurreição permanece e atrai tudo para a vida” (Cat. 1085).

Porque mistério? Porque através do acontecimento da morte / ressurreição de Jesus, o Pai revela e opera o “mistério”, ou seja, o seu Projeto de salvação da humanidade em Crista que estava até então escondido (mistério/revelado). Mistério pascal por que: a) morte / ressurreição de Jesus acontecem nos dias da celebração da Páscoa por Israel e b) sobretudo, porque os primeiros cristãos logo realizam que a morte ressurreição de Jesus leva à plenitude o sentido profundo da páscoa antiga, a salvação – libertação, passagem para uma vida nova pela ação de Deus. É a Páscoa Nova da libertação da própria morte e do pecado. Para João 19,33-36 Jesus morre como cordeiro pascal (“nenhum osso lhe será quebrado” Ex 12,1) na hora em que, no templo, se derramava em sacrifício o sangue dos cordeiros pascais para a ceia pascal nas casas após o pôr do sol. “Cristo, a nossa Páscoa, já foi imolado” (1 Cor 1,7). Jesus é o “Cordeiro imolado de pé”. (Apoc 5,6).

Em sentido estrito, Mistério Pascal se refere ao acontecimento da morte / ressurreição de Jesus em nosso favor; por extensão, pode designar, também, a vida toda de Jesus e cada um dos acontecimentos de sua vida, vivida em nosso favor, porque são igualmente “mistérios” ou eventos onde opera a salvação de Deus. “As palavras e ações de Jesus durante a sua vida oculta e durante o seu ministério público já eram salvíficas. Antecipavam o poder do seu mistério pascal.” (Cat.115 cf 1085). “Toda a vida de Jesus foi pascal, manifestação / realização da salvação de Deus para nós”. Do mesmo modo toda a nossa existência de batizados mergulhados na morte e ressurreição de Cristo e acolhendo a graça pascal é chamada a ser vida pascal.

“Celebrar o mistério de Cristo é celebrar Cristo em nossa vida e a nossa vida em Cristo” (Doc 43, n° 205) “Páscoa de Cristo na páscoa da gente, páscoa da gente na páscoa de Cristo” (Doc. 43, n° 300).

O ano litúrgico e seus tempos fortes

“O ano litúrgico é o desdobramento dos diversos aspectos do único mistério pascal” (Cat 1171) “Através do ciclo anual a Igreja comemora todo o mistério de Cristo, da encarnação ao dia de Pentecostes e à espera da vinda do Senhor” (SC 102)

Qualquer grupo social destaca alguns dias do ano para comemorar eventos importantes. É o jeito humano de comemorar e de criar identidade. “Fazei isto em memória de mim”, disse Jesus. E porque nascemos do Mistério Pascal de Cristo é sempre o mistério pascal de Cristo que comemoramos,  mas visto e celebrado sob ângulos diversos. Três aspectos são fundamentais para entender a estrutura do ano litúrgico.

  1. A comemoração semanal da Páscoa: o domingo – dia do Senhor

A santa mãe Igreja julga seu dever celebrar com piedosa recordação, em certos dias fixos no decurso do ano, a obra salvífica do seu divino esposo. Em cada semana, no dia que ela passou a chamar ‘dia do Senhor recorda a ressurreição do Senhor…” (Cat. 1163)

  1. A comemoração anual da páscoa – O ciclo Quaresma-Páscoa

“A santa mãe Igreja… recorda a ressurreição do Senhor, celebrando-a uma vez por ano, juntamente com a sua sagrada paixão, na solenidade máxima da Páscoa. (Cat 1163)

A celebração anual da Páscoa tem como ponto alto a Vigília Pascal que inicia uma Páscoa de 50 dias como um único tempo de festa que S. Atanásio chama de “o grande domingo” (Cat 1163). O domingo de Pentecostes (significa quinquagésimo dia) que encerra o tempo pascal celebra a outra face do mistério pascal: Jesus elevado ao céu derrama o seu Espírito enviando a Igreja em missão a todas as nações “Estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos” (Mt 28,20).

A QUARESMA é preparação para Páscoa anual. Quarenta dias com dupla característica:

  1. a) caráter batismal (SC 109): é a última preparação para o batismo-crisma e primeira eucaristia de adultos na vigília pascal enquanto toda a comunidade faz da quaresma um retiro de renovação da fé do seu batismo.
  2. b) caráter penitencial: não só “interna e individual, mas externa e social” (SC 110). A Campanha da Fraternidade convida à conversão a partir de um problema social onde aparece o pecado do mundo.

A Semana Santa coloca nossos passos nos últimos passos de Jesus. Tríduo Santo: 5ª à noite, comemoração da última Ceia de Jesus; 6ª celebração da Paixão; Sábado o mistério de Jesus no sepulcro e sua “descida no reino da morte”; após o pôr do Sol, início do 1° dia da semana com a solene Vigília Pascal .

  1. Celebrar o mistério pascal no seu início: Natal e sua preparação o Advento

“O ano litúrgico é o desdobramento dos diversos aspectos do único mistério pascal. Isto vale muito particularmente para o ciclo das festas em torno do mistério da encarnação (anunciação, natal, epifania) que comemoram o começo da nossa salvação e nos comunicam as primícias do Mistério da Páscoa)” (Cat. 1171)

ADVENTO: 4 domingos preparando a Vinda de Cristo: a)sua vinda em glória no fim dos tempos e b) sua vinda na fragilidade de nossa humanidade no Natal. Não é festa de aniversário com parabéns para Jesus, mas Sacramento do Natal – Mistério do Natal, revelação do projeto do bem querer benevolente de Deus que faz-se gente com a gente em Jesus. HOJE esta mesma bondade se faz presente na celebração comemorativa assim como outrora em Belém. Do tempo de Natal fazem parte: Natividade -S. Família- a oitava de Natal com Maria Mãe de Deus-Epifania e o Batismo de Jesus.

  1. Domingos ordinários – Festas do Senhor – Santos e Santas
  • Tempo comum: 32 ou 33 domingos situados entre os dois ciclos principais e caracterizados pela cor verde. Não constituem um novo ciclo especial, mas o tempo ordinário, da Igreja que percorre os mistérios da vida pública de Jesus até a sua vinda final. O ano litúrgico se encerra com Cristo Rei do universo, antes de iniciar um novo advento.
  • Festas do Senhor. Alguns dias não celebram propriamente acontecimentos da vida de Jesus, mas aspectos: são as Solenidades de Santíssima Trindade, Corpus Christi, Sagrado coração de Jesus.
  • O mistério pascal celebrado nos santos e santas (Cat. 1172-1173)

“Ao celebrar o ciclo anual dos mistérios de Cristo, a santa Igreja venera com particular amor a bem-aventurada mãe de Deus, Maria, que por um vínculo indissolúvel está unida à obra salvífica de seu Filho” (Cat. 1172).

“Quando no ciclo anual, a Igreja faz memória dos mártires e dos outros santos proclama” o mistério pascal “naqueles e naquelas ” que sofreram com Cristo e estão glorificados com ele.”(Cat. 1173)

COMO FAZER?

  1. O ano litúrgico introduz variedade. O ano litúrgico ensina que os dias não são todos iguais. Aprender a criar ritmo na maneira de celebrar durante o ano, com tempos mais fortes e tempos mais fracos. Pela sua importância, a Semana Santa e, sobretudo a Vigília Pascal e o Domingo da Ressurreição merecem o maior investimento por parte das equipes de liturgia.

Diferenciar o jeito de celebrar Quaresma e Tempo Pascal trabalhando a tonalidade da celebração. Na quaresma, tom mais interiorizado, contemplativo, meditativo, com “jejum” de instrumentos de percussão, ornamentação, luzes, flores, luz. Na Páscoa, o contraste da abundância da luz, música, ornamentação, incenso, aspersão de água batismal, etc.

  1. Iluminar todos os acontecimentos à luz da celebração do Mistério de Cristo, porém cuidar para que elementos secundários não se anteponham à celebração do Mistério de Cristo.

“Para os fiéis bem dispostos, quase todo acontecimento da vida é santificado pela graça divina que flui do mistério pascal da paixão, morte ressurreição de Cristo … e quase não há uso honesto de coisas materiais que não possa ser dirigido à finalidade de santificar o homem e louvar a Deus” (Cat 1670).

O ano litúrgico celebra uma pessoa Cristo no Projeto do Pai para a nossa salvação. Cristo na vida da gente e a vida da gente em Cristo. Não celebra ideias, mas a realidade da vida que recebe o influxo da graça pascal. Aprender a ligar Cristo com os acontecimentos da vida. Nada deve se antepor à celebração do mistério de Cristo, mas tudo pode ser visto dentro do mistério de Cristo. A devoção popular tem o seu calendário de festas, a Igreja sugere dias / semanas ou meses temáticos: vocações, Bíblia, Família, Missões. Não podemos ignorar os acontecimentos do calendário civil: dia das mães, dos pais, das crianças, início do ano, festa da pátria. Ver como Cristo está presente nestes acontecimentos e estes em Cristo. Recordá-los nas Preces dos fiéis, ou outro momento na sua relação com a obra salvífica de Cristo como também em diversas formas de orações fora da missa.

Perguntas:

  1. O que você entende por celebrar o mistério pascal?
  2. Como vocês fazem para celebrar de modo diferenciado segundo os tempos?
  3. Que dificuldades e soluções, vocês encontram para celebrar a preparação para o Natal? 

Para aprofundar

Ano Litúrgico: Catecismo 1163-1173; Documento 43 da CNBB, nn. 111-136; Sacrosanctum Concilium 102-105. Antífonas de entrada e da comunhão do tempo pascal, domingo e semana no missal ou na liturgia diária.

Pe. Jacques Trudei s.j. 

  1. FUNÇÕES E MINISTÉRIOS NA MISSA

“Na assembleia reunida para a Missa cada um tem o direito e o dever de contribuir com sua participação, de modo diferente segundo a diversidade de função e de oficio. Por isso todos, ministros ou fiéis, no desempenho de sua função, façam tudo e só aquilo que lhes compete, de tal sorte que, pela própria organização da celebração, a Igreja apareça tal como é constituída em suas diversas funções e ministérios.” (IGMR 58 

  O QUE E?

Para conseguir uma boa celebração litúrgica bem participada e frutuosa, são necessárias muitas pessoas com funções litúrgicas específicas a serviço da assembleia. Vaticano II reconheceu o valor de ministério litúrgico a estes diversos serviços e pediu que se respeitassem as funções de cada um. Assim ao padre pertence presidir, mas não proclamar as leituras, função própria do leitor, nem o evangelho se houver diácono, etc.:

  1. “Também os ajudantes, leitores, comentadores e componentes da “Schola Cantorum” desempenham um verdadeiro ministério litúrgico.” (SC 29)
  2. “Nas celebrações litúrgicas, cada qual, ministro ou fiel, ao desempenhar a sua função, faça tudo e só aquilo que pela natureza da coisa ou pelas normas litúrgicas lhe compete (SC 28)

A Instrução Geral do Missal Romano – IGMR  divide o Capítulo III “Funções e Ministérios na Missa” em três secções (58-73).

  1. Funções e Ministérios de ordem sacra do bispo, presbítero ou diácono. Pelo seu ministério próprio à frente do Povo de Deus “o Bispo ou o presbítero tem a função presidencial na Eucaristia.” (92), e “o diácono ocupa o primeiro lugar entre aqueles que servem na celebração eucarística” (94).
  2. Função e papel do Povo de Deus: “cada um tem o direito e o dever de contribuir com sua participação” (58).

 III. Ministérios particulares com duas categorias principais de ministérios.

  1. MINISTÉRIOS A SERVIÇO DO ALTAR E DA PROCLAMAÇÃO DA PALAVRA – os ministros tomam lugar no presbitério.

O ministério de leitor e acólito instituídos (98-99)

Na reforma das “ordens menores” em 1972 a Igreja Latina decidiu manter os ministérios de leitor e acolito instituídos (IGMR 65-66) como ministérios inferiores aos da ordem sacra, obrigatórios para todo candidato à ordenação como preparação para os futuros ministérios da Palavra e do Altar. Estes ministérios poderiam ser confiados, também, a fiéis leigos homens como ministério, em si, permanente.

O Leitor é instituído para o ministério da leitura da Palavra de Deus na liturgia (exceto o Evangelho) Pode propor as intenções para a oração universal e, faltando o salmista, proferir o salmo entre as leituras» (98). E encarregado de preparar outros leitores leigos temporários e instruir na fé crianças e adultos para receberem dignamente os sacramentos.

O acólito (ajudante): é instituído “para o serviço do altar e auxiliar o sacerdote e o diácono” (65).

Prepara o altar e os vasos, é ministro extraordinário para a comunhão e encarregado de preparar outros ajudantes leigos temporários que exercem algum ministério como os que levam o livro, a cruz, as velas, o turíbulo para incenso ou outras funções semelhantes.

Para nós que não temos ministros leigos instituídos, a instituição recorda a seriedade das funções e a importância de alguém capacitado que cuide da formação e treinamento dos leitores e ajudantes / acólitos / coroinhas leigos.

 As demais funções de Ministros leigos

Leitores “Na falta de leitor instituído, sejam delegados outros leigos, realmente capazes de exercerem esta função e cuidadosamente preparados, para proferir as leituras da Sagrada Escritura, para que os fiéis, ao ouvirem as leituras divinas, concebam no coração um suave e vivo afeto pela sagrada Escritura.” (N101). As leituras são distribuídas entre diversos leitores.

Salmista: “Ao Salmista, no ambão, pertence a salmodia do salmo após a primeira leitura: “deve saber salmodiar e ter boa pronúncia e dicção” (67); na sua falta, um leitor assume o salmo.

Acólitos ou ajudantes diversos “Não havendo acólito instituído, podem ser destinados  ministros leigos para o serviço do altar e ajudar ao sacerdote e ao diácono, que levem a cruz, as velas, o turíbulo, o pão, o vinho e a água, ou também sejam delegados como ministros extraordinários para  a distribuição da sagrada Comunhão” (68 / N100). Notar as numerosas funções de tantos outros ministros leigos adultos, jovens ou crianças.

A Instrução Geral sobre o, Missal Romano IGMR se encontra no início do Missal. Foi também publicada em Por Cristo, Com Cristo, Em Cristo, Introdução ao Missal Romano, Vozes, Petrópolis 1995. Os números citados serão do IGMR salvo outra indicação. A nova edição 2000 só será publicada com a nova edição do Missal. A citamos aqui com N seguida do número. A publicação oficial poderá conter alguma modificação. Mótu próprio “Ministeria quaedam” de- 15-08-1972:ver V e VI sobre funções do leitor e acólito instituídos.

♦ Ministros extraordinários da comunhão: função própria do sacerdote e diácono, com um número de comungantes muito grande  o sacerdote pode delegar fiéis leigos para ministrar a comunhão: 1° acólitos instituídos, 2° outros fiéis delegados habitualmente, 3° em caso de necessidade, delegar fiéis idôneos só para o caso particular (N162).

Ministro competente – Cerimoniário – mestre de cerimônia, eventualmente afim de que as ações sagradas sejam devidamente organizadas exercidas com decoro, ordem e piedade pelos ministros (69) e os fiéis leigos (N106).

  1. MINISTÉRIOS LEIGOS A SERVIÇO DA PARTICIPAÇÃO DO POVO DE DEUS. O Missal menciona (68 e N105):

O comentarista (68 a) desempenha a sua função em pé em lugar adequado voltado para os fiéis (pode até ser no presbitério) “não, porém, no ambão” (N105b) reservado para a proclamação da Palavra. Intervenções breves cuidadosamente preparadas, sóbrias e claras.

Ministério da música: cantores, regente do canto do povo, os diversos músicos (63/N103).

A equipe de acolhida: acolhe os fiéis quando chegam; acompanha aos seus lugares (68b).

Os que fazem as coletas (68c)

O sacristão “dispõe com cuidado os livros litúrgicos, os paramentos e outras coisas necessárias na celebração da Missa” (N105a).

A equipe de liturgia “A preparação prática de cada celebração litúrgica, seja feita de comum acordo por todos aqueles a quem diz respeito, seja quanto aos ritos, seja quanto ao aspecto pastoral e musical, sob a direção do reitor da igreja e ouvidos também os fiéis naquilo que diretamente lhes concerne. Contudo, ao sacerdote que preside a celebração, fica sempre o direito de dispor sobre aqueles elementos que lhe competem (73; N111)

(É possível confiar algumas destas funções litúrgicas “a leigos idôneos com uma bênção litúrgica ou uma designação temporária” N107) como se faz, entre nós, para ministros extraordinános da eucaristia que recebem um mandato temporário.

  1. OUTRAS FUNÇÕES LITÚRGICAS NÃO MENCIONADAS NA IGMR

Os componentes da dança litúrgica: embora devidamente autorizada; talvez porque depende dos usos culturais regionais.

IGMR de 1975 reservava um lugar bastante restrito para o ministério da mulher (70). A situação foi evoluindo com leitoras e ministras extraordinárias para a comunhão. Em 1994, a Congregação para o Culto divino deixou a critério do Bispo local, a possibilidade de convidar, ao lado de homens, também mulheres para o serviço ao altar (acólito / ajudante / coroinha). A IGMR 2000 guarda a mesma posição “Quanto à função de servir ao sacerdote junto ao altar, observem-se as disposições emanadas pelo Bispo para sua diocese” (N107/N387) e não existe mais a distinção homem / mulher que havia no número correspondente (70) da instrução de 1975.

  • O Coordenador da celebração; cuida do conjunto da liturgia para que se realize como prevista na preparação; orienta os ministros, as procissões, prepara os objetos necessários, etc. Atua nos bastidores como espécie de contra-regra.
  • Participação dos fiéis: na procissão das ofertas: “Convém que a participação dos fiéis se manifeste através da oferta do pão e vinho para a celebração da Eucaristia, ou de outras dádivas para prover às necessidades da igreja e dos pobres” (N140).

“Os fiéis não se recusem a servir com alegria ao povo de Deus, sempre que solicitados para algum ministério particular ou função na celebração” (62).

 COMO FAZER

Conhecer o seu ministério: No teatro, os atores procuram conhecer e ensaiar a fundo o seu papel. Do mesmo modo, cada ministro deveria conhecer profundamente o seu papel, a sua função. Estudar o que diz o Missal a respeito nas rubricas, conhecer o sentido do seu serviço no conjunto da liturgia, treinar através de laboratórios litúrgicos ou de outro modo para melhorar o desempenho. Evitar chamar a atenção sobre si, mas através dos sinais visíveis dos ministérios, levar os fiéis pela sua atuação a encontrar-se com o mistério de Deus em Cristo.

As vestes dos ministros leigos que tomam assento no presbitério: “Os acólitos, os leitores e os outros ministros leigos podem trajar alva ou outra veste legitimamente aprovada pela Conferência dos Bispos em cada região” (N339). No Brasil, aos poucos, animadores/comentaristas, leitores, ministros da comunhão e outros ministros que servem ao altar começam a usar uma veste própria, branca ou colorida, inculturada, usada por homens e mulheres ou mesmo crianças, ao lado das alvas ou das tradicionais vestes dos “coroinhas”. E, também, normal que os componentes da dança litúrgica ou expressão corporal usem também uma veste diferenciada. Os demais ministérios fora do presbitério não costumam usar veste própria.

Algumas orientações

– Procurar que os que desenvolvem um ministério relacionado com a Palavra e o altar, tomem assento no santuário.

– Evitar que os ministros extraordinários da comunhão apareçam só na hora da comunhão. Tenham veste própria de bom gosto, tomem lugar no presbitério e ajudem na celebração, recebendo, por exemplo, os dons dos fieis na hora das ofertas para apresentar ao que preside.

-Evitar que um só leitor ou leitora faça a 1ª e 2ª leitura ou então leia o salmo. De preferência procurar quem possa salmodiar o salmo do ambão.

– Procurar constituir uma equipe que acolha as pessoas, fora da igreja. Para facilitar o contato, pode distribuir as folhas de canto ou outro material. Acolher, de maneira especial, os visitantes novos na comunidade, inclusive indicando um bom lugar, colocar-se à disposição para dar a conhecer a comunidade (ter um material sobre os horários e serviços na comunidade), etc. Os ministros da comunhão podem eventualmente fazer parte desta equipe de acolhida.

Perguntas

“Convém, na medida do possível, que a celebração, sobretudo nos domingos e festas de preceito, se realize com canto e conveniente número de ministros” (N115)

  1. Como está a situação dos ministérios litúrgicos na sua comunidade? Há um número conveniente? Há outros ministérios não mencionados aqui? E nas celebrações da Palavra?
  2. Como vocês desenvolvem o ministério da acolhida? Quem participa? Como? Com que resultados?
  3. Que ministres sentam no presbitério? Usam todos vestes ou não? Que critérios vocês usam para isso?
  4. Quem ajuda no altar? Adultos? Jovens?
  5. Existe um ministério de “coroinhas”? Qual a formação e a organização? Que critérios vocês têm para reservar só para meninos ou, também, aceitar meninas?

Jacques Trudei. S.J.- Doutor em Liturgia

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