Em enterro, parentes relatam ligação de PMs com chacinas em Campinas

Oito das 12 vítimas dos homicídios em série foram sepultadas nesta tarde.

Familiares e testemunhas dizem que criminosos estavam fardados na ação.

Parentes e amigos de vítimas dos 12 assassinatos em série cometidos em Campinas (SP), na madrugada desta segunda-feira (13), protestaram durante o enterro de sete dos mortos, que foram sepultados durante a tarde na cidade. Além de gritos de revolta contra a PM no Cemitério dos Amarais, testemunhas relataram que os autores estavam fardados e fizeram questão de deixar claro que eram policiais. Uma das hipóteses da Polícia Civil é de que os homicídios, que incluem duas chacinas, seriam uma vingança pelo assassinato de um policial militar em uma tentativa de roubo. Entre os mortos, sete têm passagem pela polícia e os outros cinco não têm antecedentes criminais.

“Viram eles com a farda cinza da PM, com bota, só que estavam com capuz na cara. Eles não tiveram nem a capacidade de tirar a farda deles. A gente quer justiça e vai ter”, desabafou Jessica Carin da Silva Sousa enquanto velava o irmão no Cemitério dos Amarais, onde outras cinco vítimas do crime foram enterradas. Além deles, um oitavo morto foi sepultado nesta tarde no Parque das Flores, onde também foi enterrado pela tarde o policial militar Aride dos Santos, morto num latrocínio. No local, carros da PM fizeram escolta para o sepultamento.

A mãe de uma outra vítima, que não quis se identificar, também se manifestou contra a PM durante o velório do filho que não tem antecedentes criminais e trabalhava como ajudante de servente de pedreiro: “Meu filho nunca teve passagem, nunca teve problema com nada de polícia. Perdi meu filho a troco de nada, sem ele dever nada. Ele estava apenas sentado com os amigos dele, tomando vinho. Então, a polícia chega do nada e vai matando. Por que? Porque eles podem?”

A Polícia Civil informou que ainda não tem indícios de participação de policiais nos crimes, além dos relatos de moradores dos bairros. Segundo o delegado do caso, Devanir Dutra, os projéteis apreendidos são de pistolas de calibre 380 e 9 milímetros, que não coincidem com os utilizados geralmente nas ruas pela PM (pistola .40). Dutra informou, ainda, que os mortos que têm passagem pela polícia participaram de roubos, receptações e tráfico de drogas.

O que diz a PM
A Polícia Militar afirmou em nota que a Corregedoria acompanha as investigações dos múltiplos homicídios. Em posicionamento anterior, a instituição afirmou também que “obviamente não está tratando o fato como uma situação de normalidade”. A PM também afirmou que reforçou o policiamento nessa região mais crítica, para manter a segurança das pessoas.

Vítimas e sepultamentos
Entre os sepultados no Cemitério dos Amarais estavam os irmãos Peterson Rodrigo Calderari e Patrick Ernandes da Silva, que não têm passagem pela polícia. O local também recebeu os corpos de Rodiney Manoel, Daniel Vitor da Silva, José Ricardo Grigolo e Alex Sandro Giacomelli de Carvalho. No Parque das Flores, ocorreu o enterro de Jaílson da Costa Silva.

Nesta terça-feira (14), estão marcados os enterros de outras quatro vítimas da série de mortes do Ouro Verde. Diego Dias Coêlho, Gustavo de Sousa Moura da Silva, Sadrack de Santana Galvão e Wesley Adiel Lopes serão sepultados entre 8h30 e 11h. Ainda não há definição sobre a data do sepultamento da 12ª vítima.

Assassinato em série
As mortes ocorreram em um espaço de quatro horas. A primeira foi às 20h30, no Residencial Cosmos. A oito quilômetros de distância, às 23h20, quatro pessoas foram mortas na primeira chacina, no bairro Recanto do Sol, uma delas menor de idade. Dez minutos depois, mais uma morte, agora no Parque Universitário. Às 23h40, o grupo fez cinco vítimas em um único bairro, na segunda chacina da série, no Vida Nova. A última morte aconteceu, a 3,5 km dali, a 1h48 da madrugada no Jardim Vista Alegre.

O delegado afirmou que, além da relação dos assassinatos com a morte do policial militar, os investigadores também apuram a possibilidade de acerto de contas entre quadrilhas. Além de delegados de Campinas, a cidade recebeu reforço do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de São Paulo.

Ônibus incendiados
Três ônibus do transporte público de Campinas (SP) foram incendiados e outros sete, depredados no final da manhã desta segunda-feira (13) nas imediações do terminal do bairro Vida Nova, onde foram registrados cinco dos 12 assassinatos em série ocorridos na madrugada. Além dos ônibus, um carro e uma das cabines da entrada do terminal foram destruídos pelo fogo ateado por um grupo de aproximadamente 20 pessoas, segundo testemunhas. A Transurc calcula um prejuízo de R$ 410 mil.

Do G1

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