Israel bombardeia Gaza após acordo entre Autoridade Palestina e Hamas

Seis civis palestinos ficaram feridos no ataque desta quarta (23).
Milhares festejavam anúncio de novo governo palestino independente.

A Força Aérea e os serviços secretos de Israel realizaram nesta quarta-feira (23) uma “operação de contraterrorismo” em Gaza que não atingiu seu objetivo, segundo o Exército israelense. O bombardeio na Faixa de Gaza ocorreu após anúncio da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), do presidente Mahmud Abbas, e do movimento islamita Hamas, que governa Gaza, de um acordo sobre a formação de um governo palestino de união nacional nas próximas semanas.

Seis civis palestinos ficaram feridos, um deles com gravidade, no bombardeio, que aconteceu quando milhares de pessoas festejavam nas ruas o anúncio do novo governo, dirigido por Abbas.

Milhares de pessoas saíram às ruas em Gaza, em outros locais, e em campos de refugiados do território, agitando bandeiras palestinas e gritando “Unidade palestina!”.

Insatisfação de Israel
O premier de Israel, Benjamin Netanyahu, acusou o presidente palestino de sabotar o processo de paz ao buscar a reconciliação com o Hamas.

“Em vez de escolher a paz com Israel, Abu Mazen (apelido de Mahmud Abas) opta pela paz com o Hamas”, lamentou o premier.

“Quer a paz com o Hamas ou com Israel? Pode-se ter uma, não as duas. Espero que escolha a paz com Israel, mas, no momento, não é este o caso”, acrescentou.
O negociador-chefe palestino, Saeb Erakat, questionado pela AFP, respondeu: “Não se pode conseguir a paz sem que haja uma reconciliação. A reconciliação é uma prioridade nacional palestina”.

Em comunicado, o presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, afirmou que a reconciliação entre os palestinos e as negociações com Israel não são incompatíveis, ressaltando seu compromisso com uma “paz justa” baseada no direito internacional.
“Não há incompatibilidade nenhuma entre a reconciliação e as negociações” com Israel, declarou Abbas. “Estamos comprometidos com a conquista de uma paz justa baseada em uma solução com dois Estados, de acordo com as resoluções do direito internacional”, acrescentou em um comunicado.

Por sua vez, o Hamas se opõe categoricamente às atuais negociações da Autoridade Palestina com Israel, que estão bloqueadas desde que Israel se negou a libertar, no último dia 29 de março, um último contingente de prisioneiros palestinos e exigiu a prorrogação das negociações de paz, que deveriam terminar em 29 de abril.

Retomadas em 29 de julho passado pelo secretário de Estado americano, John Kerry, as negociações de paz entre Israel e os palestinos encontram-se em um beco sem saída. Elas se chocam com questões essenciais, como as fronteiras, colônias, a segurança. e o status de Jerusalém e dos refugiados palestinos.

Uma nova reunião entre negociadores israelenses e palestinos ocorreu ontem em Jerusalém, na presença do mediador americano Martin Indyk, sem que houvesse progresso.

Abbas declarou-se disposto a estender as conversas, com a condição de que Israel solte os prisioneiros, congele a colonização e concorde em discutir a demarcação das fronteiras do futuro Estado palestino. O governo israelense rechaçou a proposta.

Reunião cancelada
Um porta-voz do primeiro-ministro de Israel Benjamin Netanyahu anunciou que o país cancelou uma sessão de negociações previstas para esta quarta com os palestinos após o anúncio do acordo.
“Israel cancelou o encontro que iria ocorrer nesta noite” com os negociadores palestinos, escreveu o porta-voz Ofir Gendelman em sua conta no Twitter.

No entanto, o negociador palestino Saeb Erakat declarou à AFP que não havia nenhuma reunião prevista nesta quarta com os israelenses.
“Netanyahu parou as negociações há muito tempo”, declarou. “Escolheu os assentamentos em vez da paz”, acrescentou, referindo-se à colonização israelense na Cisjordânia ocupada. “Está demolindo o processo de paz”, disse.

Relação tensa
O Fatah, principal partido da OLP, e o Hamas assinaram um acordo de reconciliação para acabar com a divisão entre Cisjordânia e Gaza em 2011, mas a maioria das cláusulas nunca foram aplicadas.

Hamas e Fatah, que governam, respectivamente, a Faixa de Gaza e as zonas autônomas da Cisjordânia ocupada, mantêm uma relação tensa desde a tomada do controle de Gaza, em junho de 2007, pelo movimento islamita, vencedor das eleições legislativas de 2006.

Esta não é a primeira vez que os irmãos inimigos do movimento nacional palestino anunciam a formação iminente de um governo de união nacional.

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