Pernambuco exporta soluções para o enfrentamento da falta de água

Dispositivo criado no campus Agreste da UFPE e premiado pela ANA será apresentada no 7º Fórum Mundial da Água, na Coreia do Sul

Do Diário de Pernambuco

Há poucos anos, quem poderia imaginar o interior de Pernambuco gerando soluções para problemas de água do Sudeste do país? Hoje, isso está bem perto de se tornar realidade. Pesquisas desenvolvidas no campus Agreste da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) estão sendo ampliadas para, além de minimizar os dramas históricos do semiárido estadual, fornecer saídas à crise hídrica em São Paulo, no Rio de Janeiro e em outras regiões do país.

A “estrela” da vez é o Desviufpe, um dispositivo de PVC que filtra a parte contaminada da água da chuva, fazendo com que as cisternas recebam, da calha das residências, apenas o apropriado para consumo humano. O líquido “sujo” ainda pode ser usado em atividades domésticas, como a limpeza do chão. Fruto de um trabalho iniciado em 2007, a ferramenta foi pensada como solução para a população do Agreste e do Sertão e instalada pela UFPE em dez casas na zona rural de Caruaru e Pesqueira. Agora, no entanto, vem chamando a atenção de instituições do Sudeste do país. “Desde que começou a seca em São Paulo e no Rio de Janeiro, surgiu uma demanda para a gente, questionando se o Desviufpe poderia ser útil lá”, explica a coordenadora do programa de pós-graduação de engenharia civil e ambiental do campus, Sávia Gavazza.

Essas possibilidades de uso do desvio fora da zona rural são um dos pontos da pesquisa de doutorado de Selma Thaís Bruno da Silva, com orientação de Sávia Gavazza. O equipamento, que ainda vem sendo aprimorado, foi instalado em três pontos da área urbana de Caruaru e em três do distrito industrial de Arcoverde. “A ideia é avaliar qual é a contribuição da poluição atmosférica na qualidade da água. Talvez, nesses ambientes, seja preciso filtrar os dois milímetros iniciais da água da chuva, em vez de apenas o primeiro, como acontece no campo”, afirma a professora.

No próximo dia 11, uma comissão formada por Sávia, pela professora Sylvana Melo e pelo engenheiro civil Júlio César Azevedo (ex-mestrando cuja pesquisa deu origem ao Desviufpe) viajará para a Coreia do Sul. Os três irão apresentar o dispositivo no 7º Fórum Mundial da Água, que acontece de 12 a 17 de abril. A participação no evento deve-se à conquista do prêmio da Agência Nacional das Águas (ANA), na categoria Inovação e Pesquisa Tecnológica, em dezembro de 2014.

SECA – Para os períodos de escassez de chuvas, o campus da UFPE no Agreste desenvolveu um outro estudo de tratamento da água. Neste caso, o segredo é o emprego de potes e filtros de barro. “Quando não há precipitação, a gente recomenda que a população retire água da cisterna, passe para esse recipiente e o coloque em exposição ao sol, durante seis horas. Essa medida removeu 100% do E. coli, mesmo quando utilizamos água de sistemas sem desvio, ou seja, de pior qualidade”, explica Sávia. Assim, o líquido fica adequado para o consumo humano por, no máximo, 48 horas. “Isso nasceu de uma demanda da administração do estado, devido à seca de 2012. Desenvolvemos o estudo e demos retorno para o governo, que distribuiu potes e filtros de barros para a população.”

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