Nigéria bombardeia campo de refugiados por engano e mata 52 pessoas

Militar nigeriano informa mais de 100 mortos; MSF indica pelo menos 120 feridos no local

Do O Globo

ABUJA – Dezenas de pessoas morreram nesta terça-feira quando um avião da Força Aérea da Nigéria bombardeou por engano um acampamento de refugiados no nordeste da país, anunciaram testemunhas e a organização Médicos Sem Fronteiras (MSF). Uma autoridade militar nigeriana informou que há mais de 100 mortos, mas a MSF informou que pelo menos 52 pessoas morreram e 120 ficaram feriadas.

A corporação nigeriana afirmou que o alvo do ataque era o grupo extremista islâmico Boko Haram. A incursão aérea aconteceu em Rann, no estado de Borno.

Seis funcionários da Cruz Vermelha nigeriana estão entre os mortos, anunciou o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICR).

“Entre as vítimas dos ataques aéreos de hoje, em Rann, seis membros da Cruz Vermelha nigeriana foram mortos, e 13 feridos”, declarou à AFP um porta-voz do CICR, via SMS.

A MSF informou que o campo abriga entre 20 mil e 40 mil refugiados e que as forças armadas nigerianas sabiam da presença da organização humanitária em Rann. Segundo a MSF, o Exército ajudou a instalação dos ajudantes no local.

O Major General Lucky Irabor, que comanda operações contra insurgentes no nordeste da Nigéria, afirmou à imprensa que a investida aérea matou “alguns” civis e feriu trabalhadores humanitários da MSF e da Cruz Vermelha. Ele indicou que dois soldados se feriram, mas não tem uma contagem final.

Irabor disse que ordenou a missão com base em coordenadas geográficas “sobre concentrações de terroristas de Boko Haram em alguma parte da região de Kala-Balge”. O general disse em coletiva de imprensa em Maiduguri que o episódio será investigado.

“Obtivemos as coordenadas, e ordenei à Força Aérea que interviesse para resolver o problema. Fez-se o bombardeio, mas, infelizmente, habitantes foram alcançados”, acrescentou.

A MSF se disse surpresa por essa declaração. Segundo a organização, a área estava sob controle dos militares nigerianos por pelos menos seis meses e zona bombardeada era claramente civil.

“O campo de deslocados internos era controlado pelos militares, então é incompreensível que este ataque seja um erro”, afirmou a MSF, que condenou o bombardeio:

“Um ataque em larga escala sobre pessoas vulneráveis que já fugiram da violência extrema é chocante e inaceitável”, declarou o médico Jean-Clément Cabrol, diretor de operações da MSF. “A segurança de civis deve ser respeitada. Convocamos urgentemente todas as partes para garantir a facilitação de evacuações médicas por ar ou terra para sobreviventes que precisem de tratamento emergencial”.

O ataque equivocado acontece em um contexto de ofensivas por parte do governo nigeriano contra o grupo extremista Boko Haram. De acordo com o presidente da Nigéria, Muhammadu Buhari, forças militares do país conseguiram destruir esconderijos dos extremistas na floresta de Sambisa, também no estado de Borno, no último mês.

Em relação ao ataque aéreo desta terça-feira, a presidência divulgou uma nota em que chama o episódio de “lamentável erro operacional”, ocorrido na “etapa final de varredura dos insurgentes no nordeste” do país.

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